quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Efeito Macumba

Efeito Macumba

Julio Cezar Dosan

Caroline sentiu a necessidade de ser amada. Não era bela nem feia, era mal cuidada, no entanto uma mulher notável, cheia de responsabilidades e compromissos profissionais. Mas a noite, quando a solidão invadia seu apartamento, ela já no chuveiro pensava em companhia no leito de sua cama grande e vazia, sentia vontade de amor e sexo...

Se acariciou... Levou os dedos delicados até o shorts curtos e se masturbou descompassada, acariciando seu sexo... Sentiu o orgasmo lhe cobrir e esticou as pernas, apreciando sem pudor a breve sensação.

O tempo nostalgico a corrompeu, uma sensação de culpa e desanimo a culminou, como se a masturbação fosse um ritimo doce e proibido... Calou essa insegurança e prosseguiu em seu dia comum.

Ela bem que podia abusar de sua sensualidade oculta para conseguir um parceiro, mas pouco evoluiu sua sedução ao longo dos anos e quase nada sabia sobre a conquista. No decorrer de sua vida medíocre, se dedicou mais ao profissional que ao pessoal, já estava chegando aos quarenta com duas ou três curtas relações em seu patético currículo amoroso.


Em um desses dias qualquer, conheceu Augusto, representante de uma fabrica que fornecia equipamentos para a empresa a qual ela era gerente comercial. Quando Caroline o olhou do alto de sua concepção gananciosa, nos primeiros cinco segundos já decidiu: “É ele!”

Augusto era descendente de Italiano, sujeito alinhado e muito refinado, tinha em media 42 anos, aparentando ter muito menos pelo fato de ter uma vaidade absurda e incomum.

Foi em um refinado jantar de negócios que Caroline investiu as fichas que tinha, mas ele como todos os outros homens que ela um dia olhou com suprema gana, não a notou.

Era fato, Caroline não sabia conquistar, deduziu em um particular fracasso que cobiçou alto demais. Mas algo fora do comum se remoia dentro dela, e toda aquela decadência popular, foi sucumbida por seu desejo de evolução! Decidiu, e quando se decidia, optava por todos os modos, até o ultimo fio de esperança!

Meses se passaram e a visita do representante já era cada vez mais comum, e ele, ser explendido e vaidoso, dava mais atenção ao penteado que a pobre e solitária gerente comercial. O máximo que conseguiu de Augusto foi uma grande amizade, mas a cobiça por sua companhia sexual era ainda o objetivo de seu coração, e a zona da amizade teria de ser avançada.

Ela se dirigiu a ele num lance de “Agora ou nunca”, conseguindo ouvir o acelerar do próprio coração... Estava pra lá de decidida, se aproximou de seu ouvido e balbuciou em lagrimas absurdas:

Eu... Te amo, Augusto... Te amo tanto e nem sei como te dizer e me dizer...

Ele arregalou os olhos em um extremo absurdo, se voltou a ela, e também em lagrimas, respondeu:

Eu sou gay, Caroline!

O mundo caiu... O prédio erguido com tijolos e suor se desmoronou em sua face insatisfeita... Ela não pode suportar aquela verdade absurda e latejante. A tontura lhe cobriu a mente atordoante a fazendo perder os sentidos... Caiu como as torres gêmeas, ao receber a noticia absurda... O mundo girou a sua volta e Caroline quis morrer, vomitou descompassada no chão liso.

Por mais absurdo que fosse, era fato, o italiano charmoso e vaidoso era uma puta bichona enrustida! Com uma particular insistência ele até tentou agradá-la. Marcaram um encontro bobo, seguido de pene ao pesto e vinho. E após a decisão da tentativa, antes de se deitarem, ele recuou, dizendo que não conseguia.

Ser homossexual não era uma escolha particular de Augusto. Ele lutava contra este desejo que considerava insano e proibido, mas o gosto pelo mesmo sexo era mais forte do que tudo. Muito sofreu passando por religiões, psicólogos e toda a sorte de tratamentos mediúnicos e psicológicos. Não queria ser gay, e lutava com unhas e dentes contra tudo aquilo... Em vão.

Também era apaixonado por um homem belo e másculo, uma voz aguda e gritante dentro dele gritava ao leito da cama, enquanto corria os dedos por aquele forte peito musculoso e peludo:

Eu te amo, Célio – Se dizia entregue as caricias profanas de seu macho, descendente obvio dos destroços queimados de Sodoma e Gomorra.

Célio era o jovem vice-diretor administrativo da empresa. Jovem, belo e também muito vaidoso. Lutador de boxe chinês tentava manter a mente limpa e o corpo saudável, demônio algum da homossexualidade lhe atingia a mente, como atingia a de Augusto. Era decidido e forte, Homo assumido, sem pudor, sem medo e sem tragédias particulares.

Ao chegar em seu apartamento, Célio encontrou Augusto em lagrimas. O abraçou e perguntou o que havia acontecido. Augusto desesperado contou do acontecido:

A Caroline, cara... Ela me ama... Ela disse que me ama, e eu... Eu quero tanto mudar, meu amor... Sabes que me sinto tão mal por te desejar, te devorar... Eu quero evoluir, mas não quero viver sem você!!! Eu não quero!

Célio o segurou pelos cabelos e lhe deu um escachado beijo, correu com a língua até seu rosto, passando por suas lagrimas e mordiscou sua orelha:

Por que Sofre tanto, meu amor... Decida de uma vez... Se entregue aos seus desejos por nós dois ou tente com Caroline... Também te amo e de qualquer forma eu vou entender... Sei que é muito foda lutar contra o que consideramos insano... É só desejo, meu amor... É só desejo...

Augusto o segurou forte com lagrimas gritantes e indagou:

Eu vou tentar, meu amor... Vou tentar com Caroline... Mas hoje eu quero que você me ame... Me ame hoje, meu amor... Me ame, pois pode ser a ultima vez...

Os dois se rasgaram ali mesmo e se entregaram... Um ao desejo insano e o outro ao prazer certo, a qual sabiam com exata certeza que não teria fim, pois era inútil lutar contra tais desejos...


E Caroline, do décimo segundo andar de seu apartamento, olhava o telefone que nunca tocava, esperando ele gritar e lhe clamar uma resposta. O telefone gritou, a seus ouvidos parecia um hino ao subir em um pódio...

Com o coração latejante ela o tirou do gancho:

Alô...

Caroline... – Do outro lado da linha, aos pés da cama de Célio, que deitado encarava sereno a decisão do amado, Augusto respondia a tão esperada duvida da moça. Olhou para o amado nu, que fez cara de aprovação, como quem aceita a decisão de quem se ama. Mediante a isto, Augusto se encheu de coragem e conclui – Eu quero tentar!


Se encontraram em um restaurante comum, um jantar simples para celebrar o começo de uma união segura, aonde todos os medos e defeitos haveriam de ser superados e esquecidos. Caroline sorrindo cortava o frango empanado, ele bebia o vinho tinto enquanto a ouvia dizer:

Estou muito feliz que tenha decidido tentar! Sinto pelo Célio, sei o quanto isto significava para você e...

Ele desviou o olhar para o jardim do restaurante e disse em tom exaltado:

Nada quero dizer sobre isto!

Ela se envergonhou, abandonou os talheres e pediu desculpas.

Depois do vinho caminharam aos risos, abraçados. Pararam de frente ao prédio dela. Ela olhou para Augusto e convidou:

Sobe comigo...

Ele hesitou, fechou os olhos por dois segundos, e nesta pequena eternidade, pensou em prós e contras, chegou no consenso seguro que se existisse hora para aniquilar demônios, era aquela.

Ela iniciou seu ataque no elevador, o beijou toda segura de sua sensualidade. Na medida do possível era correspondia, mas a mente dele viajava ainda nos lábios carnudos de Célio... Bloqueou o pensamento, mas o mesmo o traia lhe vindo trágico na mente. Ainda se agarravam quando passaram pelo corredor e entraram no apartamento. Augusto a jogou na cama e tirou sua camisa, correu as mãos grandes e macias por sobre o corpo delicado da moça-mulher... Sentia saudades dos músculos delineados de seu amado... Se lembrou da noite anterior, quando corria aquelas mesmas mãos pelo peito forte de Célio... A tortura continuou, ele visou com mais força a realidade, Caroline ali nua e crua, entregue de corpo e alma pra ele... O enjôo dominou seu estomago, ele vomitou em um canto da cama e correu ao banheiro... Caroline se entristeceu, levou as mãos na cabeça e se sentiu decadente, se perguntando o que havia dado errado...

No banheiro ele vomitava em lagrimas... Enquanto rezava e pedia perdão a Deus por seus desejos insanos e proibidos... Foi ao chuveiro e respirou fundo, achando forças para lutar em uma batalha que já estava perdida. Na cama, a moça-mulher enfiou os dedos por dentro da calcinha ensopada e se acariciou frenética, enquanto levava o outro dedo na boca... No ápice, tirou o dedo da boca e pegou o travesseiro macio. O na mão que acariciava sua vagina, tendo um orgasmo intenso e inquietante... Satisfeita, enfim.

Caroline entrou no banheiro ainda nua, e também em lagrimas, o abraçou pelas costas e chorou junto com ele.


O dia amanheceu nublado. Na empresa Augusto não estava sorridente como todos os dias, estava sério e nervoso. Célio soube por sua boca do fracasso da noite anterior. Piedoso, abraçou Caroline, dizendo que o amava mas torcia para que ele se encontrasse...

Caroline agradeceu, disse que faria o impossível para ele ser feliz, ao modo que quisesse.

De volta ao seu escritório, a moça abriu a ultima gaveta de sua escrivaninha, lá dentro, lembranças esquecidas e ignoradas: O livro de formatura, o álbum de fotos da família e o velho caderninho de telefones.

Ela respirou fundo e arrancou de lá o álbum de fotos, na primeira pagina, viu a foto de uma senhora gorda, de óculos, sentada a uma mesa cheia de velas. Ao fundo dezenas de imagens de santos e orixás, de todos os tamanhos. Ela correu o dedo sobre a foto e falou:

Mamãe... Quanto tempo...

Fechou novamente o livro e pegou o caderno de telefone. Viu na letra “M” o numero e discou seis dos oito dígitos... Parou, pensou um pouco e desligou. Guardou o caderno e o álbum na gaveta e se voltou a seus afazeres.


A tarde, na hora de ir embora, procurou por Augusto e não o encontrou, correu agoniada ao escritório de Célio e também não o viu. Seu coração disparou... O carro de Célio não estava na garagem... Ela dirigiu até o apartamento, tocou a campainha e foi atendida por Augusto, que já estava só de toalha...

Augusto a olhou com piedade e lamentou pela forte recaída... Ele se arrumou e os dois voltaram para o apartamento dela.

Deitada em sua cama, ao lado de “seu” homem, ela se entristeceu... Achou coragem e lhe alisou o rosto, dizendo:

Acho que conheço alguém que pode te curar...



Na manhã seguinte, em seu escritório, Caroline se voltou a ultima gaveta e pegou o velho livro de telefone. Discou todos os números e esperou alguém atender:

Alô...

Ao ouvir a voz, Caroline arregalou os olhos e sentiu o corpo tremer... A voz do outro lado continuou:

Minha filha, é você, não é?

A coragem veio e Caroline mesmo magoada, venceu seu orgulho e respondeu:

Mãe... Sim, sou eu... Preciso da senhora...

O amor por Augusto fez com que ela engolisse todo seu orgulho e procurasse sua mãe, que um dia ousou ofender e ignorar... Agora, confiava no mesmo feitiço a qual acusou de ser charlatanismo, mesmo sua mãe lhe apontando fortes evidencias de que era real...

Dirigiu com Augusto até a casa da mãe, tocou a campainha e entrou.

Mãe... Preciso que a senhora o cure... Eu preciso...

Filomena se aproximou do rapaz, esticou as mãos até seus cabelos e concluiu:

És um moço muito bonito... Quer mesmo se curar disto?

Augusto segurou nas mãos da velha e disse chorando:

Sim!

A macumbeira virou as costas, caminhou com eles pelo extenso corredor, a qual ia ficando cada vez mais escuro... Ao fundo dele, lá no finalzinho, chegou a ultima e maior de todas as imagens. Olhou para o casal e contou:

Umbaô, o deus dos mortos... Ele é o único que pode interferir em suas escolhas. Certamente será capaz de lhe curar da homossexualidade...

Caroline se voltou a mãe e perguntou:

Como pode ser feito, mamãe?

A velha abandonou o corredor, contando a eles:

Dentre todos, Umbaô é o mais poderoso. Mas também é o mais perigoso, o mais vingativo e o mais rígido... Sei de historias dele, pessoas que sairão felizes, pessoas que saíram tristes, pessoas que sairão mortas... Quando se promete uma coisa a Umbaô, tem que se cumprir! Ele interfere em sua vida e lhes dá o que pedir, mas em troca, nada pede alem de devoção e respeito as regras que ele impor!

Eu só quero me curar – Disse Augusto – Dou a ele o que me pedir!

Ela se sentou a cadeira, Caroline e Augusto se sentaram junto dela, em volta da mesa. Ela acendeu a grande vela negra, abriu o pote de açúcar e jogou seus cristais por sobre as chamas:

Fechem os olhos, não quero que o vejam – Ordenou ela, já revirando os seus.

Um vento gelado cruzou pela sala... A vela se apagou e se acendeu sete vezes. Umbaô surgiu diante dela e soprou a seu ouvido o que queria em troca do feito.


Ao acordar do transe, a vela negra se apagou, e a fumaça voltou para dentro dela. Filomena olhou para a filha e disse:

Acredita em mim agora, minha menina?

Caroline engoliu seco, olhou para seu amado e se voltou a mãe, dizendo:

Sim, mãe... Eu acredito! Sempre acreditei...

A velha continuou seria. Olhou para Augusto e contou:

Umbaô pede um jejum sexual de 49 dias... Nenhum dos dois poderá ter relações sexuais ou se acariciarem e nem se acariciarem com ninguém neste período... Sem beijos, caricias, sexo e nem mesmo masturbação... Umbaô costuma conceder o pedido antes de exigir algo em troca, mas diz que Caroline ainda duvida do feitiço... Sendo assim, só deixara Augusto livre do desejo por homens apos o comprimento completo do ritual!

Caroline olhou para seu amado e para sua mãe:

Mas eu acredito mãe! Eu creio em Umbaô!

Poderá provar a ele então, meu amor... Vou lhes falar do ritual.

O casal estava pronto para ouvir, Filomena olhou firme para os dois e contou:

Alem da total abstinência sexual, Umbaô pede que a cada sexta-feira vocês lhe façam um trabalho... Sete semanas, sete trabalhos feitos em sete encruzilhadas diferentes. Em cada um dos trabalhos, se pede um frango vivo preto e de crista vermelha, Três velas vermelhas, um champanhe fino e uma taça. O galo deve ser degolado por Augusto com um estilete, seu sangue deve ser aparado pela taça. Após se servir de uma pequena quantidade, misture com champanhe e oferte a Umbaô. Saiam de lá sem olhar para trás, pois antes que o galo morra, Umbaô beberá de seu sangue. Ao termino das sete sextas-feiras, Umbaô concederá a Augusto o que ele tanto almeja. É tudo muito simples de se fazer.

Os dois concordaram com todo o ritual. Filomena segurou na mão da filha e contou:

Vocês tem até a próxima sexta-feira para mudarem de idéia, se não fizer nesta, nada terão com Umbaô. Façam o que acharem certo... Mas se começarem, prezo que vão até o final, ou estarão condenados! Como já lhes disse, Umbaô é muito severo...

No carro, de volta pra casa, Caroline olhou para os olhos de Augusto e perguntou:

Pode mesmo fazer isto... Pode cumprir com este jejum e ficar longe dele?

Augusto fechou os olhos e disse que sim, que faria de tudo pra tentar. Teriam dois dias para mudarem de idéia. Não mudariam.


Era quinta-feira. A campainha do apartamento de Célio tocou... Ele sorriu e pediu para o amado entrar... Augusto entrou. Lhe beijou a boca e falou:

Nosso ultimo dia juntos... Temos que aproveitar, pois a partir de amanhã, terei de ser firme em um novo rumo.

Célio o correspondeu nas caricias e os dois se jogaram na cama em desespero... Se comendo com selvagens... Fazendo o amor mais avassalador de todos.

Caroline ligava em desespero para o celular de seu amado... Não atendia... Ela fechou os olhos e duvidou que ele cumpriria com o prometido, mas o amor falou mais alto e ela ousou tentar...


A primeira noite de sexta-feira chovia fraco. Caroline entrou no carro, Augusto estava diante o volante, olhando serio o pára-brisa frenético:

Não se preocupe, meu amor – Disse Caroline, alisando seus cabelos – Vamos conseguir... Vamos se livrar disto.

O que preocupava Augusto não era o simples ritual... Era a abstinência sexual. Mas pensava no orgulho que seus pais sentiriam, no casamento perfeito, na vida socialmente agradável, um homem comum, casado com uma mulher comum, firme e sério nas leis divinas, vivendo como um hétero... Mas ai seu instinto febril se voltava a seu amado... Célio... Pensava em seu corpo nu... Em suas costas, músculos e suspiros... Tremia de desejo dentro do carro, ouvindo sua futura esposa o estimular e o fino passar do pára-brisa. Tudo aquilo era uma grande loucura, loucura esta que ele estava disposto a bem enterrar, em um canto escuro de sua mente.

Dirigiu rumo à residência de seus pais. Sua mãe estava no portão, de guarda-chuva, esperando pela chegada do filho:

Mãe, esta é minha namorada... Caroline.

A mãe contente abraçou forte a moça, estava chorosa devido à escolha do filho, sabia de sua discreta homossexualidade. O pai que sempre o reprovava, abriu a porta da sala, olhou admirado para a namorada do seu filho único e sorriu, o abraçou e lhe deu três tapinhas nas costas, como quem dizia: “É isso ai, meu filho... É assim que tem que ser!”

Aquele sem duvida foi um dos melhores dias de sua vida, o dia em que sua família em orgulho extremo, o olhou como um hétero.

E depois do jantar, Caroline embalou a torta que a futura sogra fez de sobremesa e a ouviu dizer:

Cuide de meu menino, moça... Não o deixe se enveredar pelos caminhos tortuosos da homossexualidade.

Eu cuidarei dele sim... Seremos muito felizes e lhe daremos netos... Prometo à senhora!


A primeira oferenda foi montada conforme o prometido. A meia noite em uma encruzilhada desertificada, o galo foi degolado e seu sangue aparado na taça, completada com champanhe. O carro do casal saiu a mil, pelo retrovisor, Caroline enxergou uma forte luz no local, a presença nefasta de Umbaô.

Os dias corriam fartos, Caroline deitada em sua cama, tentada a se masturbar... Desistiu em pensar na macumba, teria que esperar pelos 49 dias, até a cura total de seu homem.

Em seu apartamento, Augusto olhava para o celular vibrar. O nome e a foto de seu amado piscavam no visor. Ele enxugou as lagrimas, pegou o aparelho e arremessou na parede, se encolhendo em prantos no sofá.

Um frio nefasto invadia os dois, sentiam ser vigiados por Umbaô... Caroline só de calcinha, correu ao chuveiro e tomou uma ducha fria, temendo cair em tentação.

A luz da vela a macumbeira em sua casa, implorava a Umbaô que não fosse tão severo caso o rapaz e a moça cedesse a possíveis tentações. A vela apagou, a mãe entendeu que a filha e o genro estavam largados a própria sorte.


A quinta sexta-feira foi ainda mais difícil, diante a tortura imoral e da solidão, Célio invadiu o apartamento de Augusto, que chorava, deprimido. Célio entrou nu em seu quarto, o amado se esquivou e implorou que ele saísse. Enfim Célio caiu em si, pediu desculpas e deixou o amigo em sua peregrinação voluntaria.

Caroline levava o trabalho pra casa e se dedicava nele, para esquecer-se do orgasmo. Mas volta e meia se pegava acariciando seu corpo e caia em si. Adormeceu no sofá, e sem se dar conta, num sonho bom, teve um orgasmo intenso e gratificante. Acordou em desespero e chorosa ligou a mãe:

Mãe... Por Deus, eu não tive culpa... Tive um orgasmo, mas foi em sonho, não foi por vontade...

A velha ouviu Umbaô cochichar a seu ouvido e tranqüilizou a filha:

Alegre-se, minha menina... Umbaô não te punira pelo que fizer em inconsciência... Fica tranqüila e mantenha o ritual, esta quase acabando...

Na hora do almoço, Caroline estava sentada com Augusto e Célio, contando aos risos a experiência aos dois. Célio a olhou firme:

Passou batido porque você estava inconsciente?

Sim – Respondeu ela feliz – Tive muita sorte!

Augusto sorriu. Célio maquinou ali um plano para finalmente matar a saudade do parceiro.

Depois do expediente, Caroline foi contente para seu apartamento. Célio dirigiu atrás do carro de Augusto e o abordou no portão:

Quero subir. A gente só conversa um pouco e vou embora.

Mesmo tendo exata certeza do desfecho, Augusto permitiu que Célio subisse com ele.

Célio pediu uma bebida para relaxar. Augusto o serviu e se sentou ao seu lado, o acompanhando de gole em gole. Quando deu por si, estava bebendo descompassado, ignorando o medo e se entregando ao seu amado.

Enquanto isto, em sua banheira, Caroline se entorpecia de vinho e ouvia Mozart... Se deitou calma na banheira e levemente levou a mão ao clitóris...

Quando deu por si, se masturbava loucamente, gozando intensamente dentro da banheira cheia... A taça caiu de sua outra mão e no momento em que o chão a recebeu, a água ficou da cor do vinho e ela sentiu uma mão peluda a afogar na banheira...

Enquanto isto, Augusto era invadido por Célio, que no ápice de sua loucura, ao se satisfazer sobre seu amado, sentiu o corpo formigar e o coração descompassar. Augusto se preocupou, o amigo tremeu e morreu repentinamente em seus braços...

Tudo estava perdido, ele caminhou nu pela casa e ligou para a ambulância... Já era tarde...

O disco que tocava Mozart travou, ela sentiu as unhas da mão peluda a puxar para cima e Umbaô lhe indagar voraz:

Estão condenados!

Adormeceu e acordou na sexta-feira feira de madrugada. Correu em desespero para o apartamento de Augusto e viu quando o IML carregava o cadáver de Célio.

Os dois se abraçaram... Esperaram a noite cair e tentaram cumprir com o penúltimo ritual. A oferenda bem montada a Umbaô, o frango negro, de cristas vermelhas, belo e vistoso. As velas e a champanhe importada... Tudo ao modo que o deus dos mortos gostava... A meia noite foram em uma nova encruzilhada e seguiram o ritual. O estilete não conseguia degolar o frango. Augusto se desesperou, Umbaô estava recusando a oferenda. O deus dos mortos surgiu esplendoroso diante deles, se ajoelharam arrependidos. Umbaô em ira eterna, indagou com tom grosso:

Terão o que desejam, assim como terei o que quero!

Inconformados foram ao apartamento de Caroline, que em lagrimas abraçou o amado e sentiu o desejo lhe corroer. Estranhamente, Augusto sentiu o mesmo desejo selvagem... A abraçou voraz e a beijou loucamente. O tesão fulminante o colheu e ele rasgou as vestes da moça... A lambeu com maestria. O fogo se iniciou com um curto circuito no microondas. Caroline chorou e Mozart, que tanto lhe seduzia, começou a ecoar destravado pelo apartamento... Os dois em corpos ardentes se entregaram ao sexo supremo, rompendo todos os limites, quebrando todos os tabus... Se devoraram e ele, dentro dela, se realizou e enfim se sentiu curado.

Umbaô ria em meio às labaredas que já dominavam todo o apartamento. Rapidamente, Caroline abriu a janela para a fumaça sair... Os dois se sufocavam...

Augusto então segurou firmemente em sua mão:

Eu te amo, meu amor... Queria que tudo tivesse dado certo...

Também te amo... Nada mais me importa, agora que tenho você.

A fumaça cobria tudo. Ele a olhou e ela consentiu com a cabeça... Os dois se aproximaram da janela e pularam, do décimo segundo andar, abraçados, enquanto Umbaô ria de seu glorioso feito.

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